dois vizinhos e uma janela
comenzamos aquí una serie de traducciones,
seguramente muy malas,
que si llegan a gustarle un poquito a nuestra querida
vecina Anna,
podrían llegar a formar parte de un libro
que acaso se llame: Anna bilingüe o, como ella sugirió:
"dos vecinos y una ventana"
si ella nos lo permite--
el siguiente poema se encuentra en
su maravilloso blog EHREDITARIO;
transcribo el original, y luego
la mala traducción--se aceptan todas
las críticas, por cierto--
selfie
diariamente
pessoas sentam-se em uma bacia sanitária
(outras não têm mais do que o chão)
onde despejam dejetos de um corpo precário
resíduos do que foi no dia anterior a sálvia, a carne, a pimenta
o que antes era aroma sobre uma mesa
agora desprende odores da acidez azeda e fétida
que serão levados pela água de colônia e hidratante
(enquanto outros não reconhecem sabão)
falta água
falta privada
mas sobram, em aparelhos móveis,
máquinas fotográficas
que registram os lábios vermelhos da garota
e os dentes brancos do presidente
testemunhando um ditado antigo:
a ausência nos olhos dos outros não arde
o que falta não fede, nem cheira
no rosto que se repete, repete, repete, repete,
como cada gota desperdiçada de uma torneira
EHRE
...................
versión castellana::::::::::::::::::::::::::::::::
selfie
a diario
las personas se sientan en el inodoro
(cuando algunos no tienen más que el suelo)
para vaciar de residuos el mísero cuerpo
de restos de lo que ayer fuera: salvia, carne, pimienta
lo que fue perfume en la mesa
emite ahora olores de acidez amarga y fétida
olores que apagarán las aguas de colonia y la crema hidratante
(cuando hay quien no conoce jabones)
no hay agua
no hay sanitario
pero de sobra hay celulares
con máquinas fotográficas
que registran los labios rojos de una chica
los blancos dientes del presidente
dando pruebas de aquél viejo refrán que dice:
lo que falta en los ojos de los otros no quema
lo que falta le es indiferente
al rostro que se repite, repite, repite,
como la gota de la canilla que pierde
EHRE
traditore: pablo a. g. ferro
Este não é um poema sobre trigo
Este não é um poema sobre trigo
Este não é um poema sobre um útero transpassado não é um poema sobre fraturas nem sobre a dor que desenha cores impossíveis
Este não é um poema sobre Frida Kahlo Este não é um poema até o enterrarmos até cada um dos nãos, sementes mortas, germinar um pássaro
Este é um poema sobre pão
ANNA EHRE
*versión castellana:
este poema no es sobre el trigo
este poema no es sobre un útero perforado no es un poema sobre fracturas ni trata del dolor que dibuja colores imposibles
este poema no es sobre Frida Kahlo este no es un poema que entierre a cada uno de los noes, semillas muertas, germen de pájaros
este es un poema sobre el pan
ANNA EHRE
traditore: pablo a.g. ferro
magnólia
umidade nos lábios
umidade nos lábios
úmido olhar
condição climática favorável
para uma flor brotar
sem pétalas,
o talo
ANNA EHRE
versión castellana:
magnolia
humedad en los labios
humedad en los labios
húmedo mirar
el clima ideal
para hacer la flor brotar
sin pétalos, el tallo
ANNA EHRE
traditore: pablo a. g. ferro
Coragem é órbita
Coragem é órbita
que muitos não conseguem seguir.
Olhos nos olhos é raro eclipse
EHRE
el coraje es la órbita
que muy pocos siguen
ojos que ven ojos en raro eclipse
EHRE
traditore: pablo a.g. ferro
a saga
“Viver é negócio muito perigoso.”
―Guimarães Rosa
"As pessoas não morrem, ficam encantadas"
―Guimarães Rosa
O doutor disse:
viver é negócio muito perigoso,
a gente morre para provar que viveu.
Ela respirou com os pés no meio-fio
e as mãos contra o sol
cega de ruas e muros.
Era humana
sólida e precária.
Ele, incorpóreo e eterno,
regurgitou o temor dizendo:
perigoso é não viveres
antes que a morte
te deixe encantada.
Ele, o tempo.
EHRE
------
una saga
El doctor dice:
vivir es un asunto peligroso
la gente se muere para probar que vivió.
Respiró, equilibrista del cordón de la vereda,
ciega por el sol de muros y calles.
Ella: humana,
frágil, paralizada.
Él, eterno e incorpóreo,
regurgitó el miedo diciendo:
peligroso es no vivir
antes que la muerte
te arrebate.
Él, el tiempo.
EHRE
traditore: pablo a. g. ferro
wislawa
as paredes
da casa da palavra nunca
não se desfazem: é sempre noite
as portas
da casa da palavra sempre
não se fecham: nunca é tarde
Ehre
wislawa
las paredes
de la casa de la palabra nunca
se deshacen: es siempre de noche
las puertas
de la casa de la palabra siempre
no se cierran: nunca es tarde
Ehre
traditore; Pablo
os semelhantes
Olho de sol e ventania
fazem leitura dinâmica
das folhas que a árvore escreve
Elisa é nome de furacão
Lucinda é luz doando-se
Então entendia porque os livros ventilavam a casa
e acendiam noites sem lâmpadas
A próxima página era lua cheia
EHRE
versión castellana:
Los semejantes
ojo de sol y vendaval
hacen dinámica la lectura
de las hojas que el árbol escribe
Elisa es nombre de huracán
da luz Lucinda
ahora sé porqué los libros ventilaban la casa
iluminando las noches sin lámparas
La luna llena era la próxima página
traditore: Paulus
“The Three Moirai" by Eugenia Loli.
flagrante de paisagem antes do primeiro beijo
raios são flashes
céus fotografam
chuvas
corais são jardins
flores crescem
submersas
dentro das mãos de domênico
gotas de suor frio
molham o ramalhete vermelho
amores são movidos
a raios e corais
ANNA
versión castellana:
flagrante de paisaje antes del primer beso
rayos son flashes
cielos que sacan fotos
a las lluvias
corales son jardines
flores que crecen
sumergidas
en las manos de Domingo
gotas de sudor frío
mojan el ramo rojo
se mueven los amores
los rayos los corales
ANNA
traditore: Pablo
...
monarca
O corpo arrastava-se com sofreguidão
Larva ignorando avisos:
Cuidado, curva perigosa.
Homens trabalhando contra você.
Buracos na pista.
Não ultrapasse a velocidade mínima.
Pare.
Longe, os olhos repetiam em oração:
liberdade a cinco quilômetros,
liberdade a cinco quilômetros,
liberdade a cinco quilômetros…
A alma prestes a ser asa.
Ehre
monarca
El cuerpo se arrastraba con avidez
Larva que ignora avisos:
cuidado, curva peligrosa.
Hombres trabajando en su contra.
Baches en la ruta.
No exceda la velocidad mínima.
Pare.
Lejos, los ojos repetían la oración:
libertad a cinco quilómetros
libertad a cinco quilómetros
libertad a cinco quilómetros
El alma a punto de ser ala.
rosângela
a chuva
é um instrumento de cordas
que o vento dedilha
Ehre
la lluvia
es instrumento de cuerdas
que el viento toca
Rosângela é um excerto de um poema do Caderno.
Gosto muito de chuva ainda que não seja resistente ao frio. Mas ver a chuva cair sempre me faz bem. E gostava de imaginá-la como as cordas de uma harpa. O vento seria os dedos a dedilhá-la.
Rosângela é uma menina que gostava de outra menina (que gostava de meninos). No poema eu a chamo de "ela" e falo a Rosângela "bem quisesse ele te acordaria e ainda na cama cobriria sua nudez com um lençol de beijos".
Hoje além do poema eu enviaria a Rosângela o video da palestra que Dzongsar fez sobre amor e relacionamentos. Iluminada.
......
......................................................
uma canção sobre estercos
ruminamos
sobre a jactância dos que protestam à falta de cabresto
sobre a jactância dos que protestam à falta de cabresto
ruminamos:
não será em vão este atoleiro
não será em vão este atoleiro
ruminamos
deixando para trás a cerca e seu propósito
deixando para trás a cerca e seu propósito
é da lama que nasce a flor de lótus
::::
Nosotros,
herederos de Zumbi y Conselheiro
desobedientes al arado
rumiamos
rumiamos
ante la jactante queja que pide cabestro
rumiamos
no será en vano este pantano
rumiamos
dejando atrás el cerco y su propósito
es del lodo que nace la flor del loto
----
**nota del traditore: es un poema maravilloso, me recuerda un poquito
a Eliot:
"O Hipopótamo de costas largas
Repousa sobre a barriga na lama;
Embora nos pareça tão firme
É meramente de carne e sangue."
incluso me parece que suena mejor en portugués que en inglés, jeje,
aunque eso suene a herejía:
THE BROAD-BACKED hippopotamus | |
Rests on his belly in the mud; | |
Although he seems so firm to us | |
He is merely flesh and blood. |
tratado sobre antopofagia
quando a massa não alimenta a cabeça,destina-se a ser mastigada
contudo, quando é alimentada,
costuma causar indigestão
informação é tempero forte
::::::::::::: posible versión castellana::::::::::::::
cuando la masa no alimenta la cabeza
se condena a ser masticada
con todo, cuando es alimentada,
suele sufrir indigestión
es condimento fuerte la información
o primeiro dia
Primeiro que nenhum dezembro
traz encantos de um condão, mas outro janeiro
Segundo que os fogos são artificiais
Anunciam apenas um outro dia
que guardará do anterior a mesma aflição,
o mesmo desassossego de mães
que esperam a madrugada dos filhos.
O mesmo dicionário e ideias vencidas
A mesma mordaça que alinhava lábios indecisos
A mesma ideia de felicidade datada
suspensa na tarde em nuvens de algodão
Um champanhe borbulha na taça
sob a lua de uma cereja
O cérebro embriagado
pensa ser a alegria de um coração
e tem a certeza de que o tempo é outro
Mas um cão sóbrio e sem dono
vê um chafariz de cores molhar o céu negro
Artifícios de luzes vermelhas, azuis e amarelas
e já vai longe o tempo em que espera
o primeiro dia do Homem novo.
Ehre
versión castellana:
el primer día
Segundo que los fuegos son artificiales
anuncian apenas otro día
que tendrá como el anterior la misma pena
la misma ansiedad de madres
que esperan de madrugada a los hijos.
El mismo diccionario, ideas rancias
la misma mordaza que ata los labios indecisos
el mismo concepto de felicidad con fecha de vencimiento
colgante en la tarde de algodonosa nube
burbujea en la taza el champán
bajo la luna de cereza
borracho el cerebro
cree vivir alegrías del corazón
con la certeza de que el tiempo es otro
por su parte un sobrio perro sin dueño
ve la fuente de colores mojar el cielo negro
Artificios de luces rojas, azules y amarillas
esperando hace demasiado tiempo
el primer día del hombre nuevo
Stairs, are they going up or are they going down? by Deger Bakir collages on Flickr.
com cheiro de taça
e lista de resoluções,
seria outro ano e seu começo?
Se a televisão não nos contasse
do primeiro a nascer,
da procissão dos Navegantes,
da queima de fogos em Copacabana,
da São Silvestre rendida ao Quênia,
nem da contagem regressiva da Times Square,
uma maçã cairia?
Se amanhã acordasse cedo,
feito um ator que esqueceu a fala,
sentiríamos frio?
Uma cortina sobe e não é janeiro.
Improviso…
Ehre
cuando la masa no alimenta la cabeza
se condena a ser masticada
con todo, cuando es alimentada,
suele sufrir indigestión
es condimento fuerte la información
o primeiro dia
Primeiro que nenhum dezembro
traz encantos de um condão, mas outro janeiro
Segundo que os fogos são artificiais
Anunciam apenas um outro dia
que guardará do anterior a mesma aflição,
o mesmo desassossego de mães
que esperam a madrugada dos filhos.
O mesmo dicionário e ideias vencidas
A mesma mordaça que alinhava lábios indecisos
A mesma ideia de felicidade datada
suspensa na tarde em nuvens de algodão
Um champanhe borbulha na taça
sob a lua de uma cereja
O cérebro embriagado
pensa ser a alegria de um coração
e tem a certeza de que o tempo é outro
Mas um cão sóbrio e sem dono
vê um chafariz de cores molhar o céu negro
Artifícios de luzes vermelhas, azuis e amarelas
e já vai longe o tempo em que espera
o primeiro dia do Homem novo.
Ehre
versión castellana:
el primer día
Primero que ningún diciembre trae prodigios,
mas otro enero
anuncian apenas otro día
que tendrá como el anterior la misma pena
la misma ansiedad de madres
que esperan de madrugada a los hijos.
El mismo diccionario, ideas rancias
la misma mordaza que ata los labios indecisos
el mismo concepto de felicidad con fecha de vencimiento
colgante en la tarde de algodonosa nube
burbujea en la taza el champán
bajo la luna de cereza
borracho el cerebro
cree vivir alegrías del corazón
con la certeza de que el tiempo es otro
por su parte un sobrio perro sin dueño
ve la fuente de colores mojar el cielo negro
Artificios de luces rojas, azules y amarillas
esperando hace demasiado tiempo
el primer día del hombre nuevo
Stairs, are they going up or are they going down? by Deger Bakir collages on Flickr.
(trinta e dois)
Se amanhã não acordasse tarde,com cheiro de taça
e lista de resoluções,
seria outro ano e seu começo?
Se a televisão não nos contasse
do primeiro a nascer,
da procissão dos Navegantes,
da queima de fogos em Copacabana,
da São Silvestre rendida ao Quênia,
nem da contagem regressiva da Times Square,
uma maçã cairia?
Se amanhã acordasse cedo,
feito um ator que esqueceu a fala,
sentiríamos frio?
Uma cortina sobe e não é janeiro.
Improviso…
Ehre
versión castellana, más backstage
treinta y dos
-----------
treinta y dos
si mañana no despertase tarde
con la copa sucia
y una lista de propósitos,
sería otro año y su comienzo?
Si la televisión no nos contase
del primero en nacer,
de la procesión dos Navegantes,
del show de fuegos artificales en Copacapana
del reinado de Kenia en la carrera de São Silvestre
ni de la cuenta regresiva en Times Square,
se caería la manzana?
si mañana despertase
como un actor que olvidó su parlamento,
sentiríamos frio?
sube la cortina y no es enero...
improviso
backstage:::::::::::)
--traduje cheiro de taça como copa sucia
también podría ser olorosa, jeje
con restos de vino o sidra o champán me imagino
sim, sidra ou champanhe. é o nos dizem. mas prefiro água de coco ou vinho :)
la procesión dos navegantes la dejó un poco así
al ser una fiesta tradicional, o me equivoco?
sim, a procissão marítima de Bom Jesus dos Navegantes é
uma festa tradicional que conta com mais de 200 anos e ocorre todo
primeiro de janeiro na Baía de Todos o Santos. Em Porto Alegre é a
festa de Nossa Senhora e se dá em 02 fevereiro quando aqui ocorre a
festa de Iemanjá e seus presentes jogados ao mar do Rio Vermelho. É uma
outra festa no mar
Aqui um video sobre a procissão
onde
onde o historiador Ricardo Carvalho fala a respeito. Ricardo é um
conhecido nosso, sua mãe é amiga de minha família e foi minha
professora na infância. Um de seus irmãos estudou comigo.
A festa está imortalizada para além do infinito na canção que Caymmi escreveu em 1949-50
e Gal regravou anos depois https://www.youtube. com/watch?v=sqbhYaDXkBQ
e filhos de Caymmi continuaram a saga https://www.youtube.com/ watch?v=vawx2eBrFcA
e assim o mundo vai reinventado a vida
traduzco
da queima em Copacabana
como show de fuegos de artificio
que es como suele decirse aquí
Plabo!!!
na verdade é "da queima de fogos em Copacabana" na hora de digitar,
os "fogos" escapuliram do poema e caíram no teclado sem que eu visse.
Obrigada por me fazer ver. Já tratei de colocá-lo de volta ao poema.
Sim, é sobre este show pirotécnico que todo ano toma conta dos noticiários da tevê.
en castellano se usa parlamento para lo que dice el actor en teatro
me hizo acordar esa línea del poema a la famosa escena
de Buñuel en "el discreto encanto de la Burguesía"
obrigado
pelo link. Muy bueno, Buñel. Aqui se diz "esquecer o texto" mas
preferi colocar "fala" mesmo sendo menso usada para evitar muito eco:
cedo, texto, janeiro.
Eu escrevo apenas de ouvido e na hora não me sou bem ainda que nuvens de dúvidas sempre chovam sobre mim.
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